Altina Felício

 

Possibilidades da luz

 

A escritora norte-americana Edith Wharton (1862-1937) apontou “Há duas maneiras de espalhar a luz: ser/ A vela ou o espelho que a reflete”. As duas maneiras se fazem presente nas aquarelas e gravuras criadas por Altina Felício. Seus trabalhos têm como principal característica justamente a forma de criar variações luminosas com cores e fundos.

Altina vem concentrando a sua energia numa recuperação da memória do local em que viveu a sua infância, Olhos D’Água, no Estado de Goiás. Os trabalhos inspirados nas suas origens podem ser subdivididos em subgrupos temáticos de grande possibilidade plástica.

            A protagonista da série, principalmente na gravura, seja quando aparece em primeiro plano ou quando sugerida pelas manchas da pele, é a onça. As primeiras lembranças dela vêem das histórias sobre o felino que ouvia quando criança e as mais recentes de uma bolsa feita com a pele do animal que adquiriu num sapateiro próximo ao seu ateliê, em São Paulo.

Desmanchada a bolsa, Altina encontra na pele um xamã a direcioná-la plasticamente. É ao tocá-la ou abraçá-la que renova suas energias para um mergulho cada vez mais fundo num universo que traz diversos tipos de recordações passadas e emoções presentes.

Nas aquarelas, surge a cidade propriamente dita: vislumbram-se visões áreas, a igreja, conjuntos de casas, cursos d’água, paisagens noturnas, árvores e imagens do cerrado. Um segundo grupo é o de Interiores de Olhos D’Água. Inclui, em tons terrosos, visões figurativas de quartos, salas, portas e janelas a exercícios de composição em que as linhas retas começam a ganhar destaque.

A série Objetos apresenta elementos do mundo rural do cerrado do interior goiano que alimentam até hoje o imaginário de Altina. Está ali um majestoso pilão, assim como o balde que abriga o leite recém-tirado da vaca. A coleção Animais também enfoca esse mundo do interior goiano, compondo outro conjunto de imagens.

            As vertentes da obra de Altina Felício, na aquarela e na gravura, apontam para uma pesquisa estética que concretiza as palavras de Edith Wharton sobre a natureza da luz entre os seres humanos. A artista goiana cria seus universos, com luminosidade própria pelo domínio das técnicas que desenvolve, e constitui um espelho da riqueza visual que Olhos D’Água gravou em sua memória.